quinta-feira, 19 de abril de 2018

TODOS PASSARÃO, EU PASSARINHO


Apareceu na escola uma calopsita que deveria ter escapado de alguma gaiola próxima. Os alunos ficaram em polvorosos, amando a visita inusitada e apaixonados pelo lindo pássaro amarelo. “Eu tenho uma também! ” “A minha morreu” “Sempre quis ter uma” “Dá ela para mim”... Frases genéricas a essas eram ouvidas o tempo todo e ao mesmo tempo...
Dei o meu braço a ela (até então não sabíamos se era ele ou ela então a opção natural foi de chamar de ela por ser: a calopsita) e ela subiu até o meu ombro e ali ficou por um tempo, logo se instalando próximo a minha nuca onde sentiu-se aninhado e ficou. Como se escondido de todos, protegida por meu moicano azul. Talvez com lembranças edipianas da mamãe. Ali se instalou livre do alvoroço entorno de sua aparição inusitada e os levantamentos sobre sua origem e destino.
Em meio a tudo isso, algumas pessoas ficavam abismada com o fato dela se sentir tão bem empoleirada em mim. O que eu refutava com um outro episódio envolvendo pássaros que havia me acontecido recentemente. Vou tentar conta-lo em linhas gerais: na casa do meu amigo, conheci a criação de calopsitas da mãe dele, quando cheguei perto da, enorme, gaiola todas ficaram de boa, como se nada estivesse acontecendo, mexi com elas, elas vieram, brincaram e a mãe do meu colega ficou abismada por elas estarem tão de boa com a minha presença! Normalmente elas fazem um escândalo, me garantiu ela curiosa, ensimesmada.
Cogitaram todas as hipóteses para saber do apego da ave a mim. Como por exemplo: as sarristas (mamãe), as carinhosas (os animais reconheces as almas boas), as espiritas (você deve ter sido um pássaro em outra vida), as afirmativas (ela escolheu você) as afirmativas, as encantadoramente, pretenciosas (ela escolheu você... para encontrar um bom destino a ela) ... enfim, não posso saber qual delas me cabe nesse aviário.
A mamãe, cedo ou tarde ele perceberia que não tenho penas.... Sobre ser uma alma boa, bem, há quem diga o contrário.... Se eu fui um pássaro em outra vida, devo ter morrido no ovo ao cair do ninho pois tenho muito medo de altura.... Eu escolher um lar para ela?!
- Quem quer levante a mão?!
A dona apareceu pouco depois. Era uma vizinha da escola que nos contou que ela era ele e que havia uma a fêmea, sua companheira, também fugitiva, que encontrava foragida sem paradeiro definido. Fiquei sem o pássaro na mão, ou melhor, na nuca... reticente... sem saber por que eu...???????
Na instância falei que tenho a mania de ficar assobiando para os pássaros que frequentam a laranjeira do vizinho. Tentando copiar seu som, me comunicar... O que será que ando assobiando por aí aos quatro ventos?

sábado, 18 de março de 2017

SOBRE A CHUVA, A ESCRITA, CÂMERAS FILMADORAS E MOLETONS COM MIJO ADORMECIDO

       Caminhei na chuva fina e não cheguei realmente a me molhar mas, ficou uma sensação de umidade.
         Muitos no centro da cidade disputando um lugar de baixo dos toldos da lojas. E o caixa eletrônico do Banco do Brasil lê minhas digitais e me permite ter acesso ao, pouco, dinheiro que é o meu.Comprar uma fita cassete ou um dvd pirata ou um vinil ou um livro no sebo ou o último número da Rolling Stones ou o beck que falta ou (o mais óbvio) não comprar nada disso!
           Não há o que chegue! Não há o que basta! Não tem o que entupa! Vinte reais de créditos no meu cartão, de ônibus, é o que basta para eu ser útil.
       Preciso bem menos do que aquele que anda de chinelo de dedo nesta chuva, arrastando seus sujos cobertores, carregando sacolas plásticas com marmitas de isopôr ou papel alumínio protegendo a comida que restou do restaurantes, cheirando a falta de banho e exalando o mijo adormecido encalacrado no tecido sujo e rôto de seu moletom.
       No terminal de ônibus, um ser dessa espécie conversa com um dos skaitistas do grupo que ali está (aparentemente fugindo da chuva e aparentemente não pertencentes à cidade). Ninguém os olha! Já havia medo e apreensão quando eles realizavam suas manobras, proibidas e não habituias, naquele espaço, imagine agora que estão dando trela pra o rapaz da sacola de plástico! São da mesma laia e não merece nossa atenção!
       Quando termina a música "Apenas um incômodo", que estava tocando no meu celular e individualizada no meu fone de ouvido, escuto um dos skatistas explicar ao cara de chinelo de dedos, cobertor, sacola de plástico, marmita, sem banho e com mijo no moletom, que ele morava com o pai e com a mãe e que desde então... Bem, Ava Rocha começou a cantar "Você não vai passar" e não pude ouvir a conclusão da frase.
       Os meninos, nem tão meninos assim, do skaite contrariam a regra e andam pelo terminal  que tem o chão plano e liso e as pessoas fazem de conta que nada está acontecendo. evitando o contato visual, ignorando os tombos e as manobras, receosos; da mesma forma que são receosos com o rapaz do chinelo, cobertor, sacola, marmita. sem banho e com mijo no moletom.
       Pego, em 2017, minha agenda de 2014 e nela começo a escrever! Neste momento sinto que entro para o grupo dos skaitistas e do reapaz do cobertor sujo nas costas: me olham rapidamente, entendem meu gesto e desviam olhar com a mesma rapidez que antes o concederam. Agora minha escrita me arma, me invisibiliza e me marginaliza. Pertenço ao grupo dos que causam receio.
       Um dos meninos saca uma câmera filmadora (encantadoramente estranha) e de repente percebemos que sua mocila é de marca e suas roupas são táticamente pareceidas com pobres roupas de pobres mas não são roupas de pobre! Aquele gesto, aquela super câmera, aquelas roupas (sim) limpas e (possivelmente) cheirosas o desmarginalizou. E quando ele sai seguindo outro rapaz com seu skaite, câmera em punho gravando um plano sequencia, em travling. ah!... Todos agora os olham e ficam felizes em supôr que els não são tão marginais assim! Não vão nos roubar! E parece mesmo que moram com (e realmente devem possuir) pai e mãe! Mandaram bem! São inofensivos com sua câmera profissional e suas roupas e mochilas de marca! Pobrezinhos! devem estar apenas se escondendo da chuva! São um de nós!
       Quando chega meu ônibus, fecho minha agenda, pauso minha escrita, me desarmo, e por parecer (agora) que tenho vinte reais para pôr no meu cartão de ônibus, não pareço mais ameaçador e me desmarginalizam também! Assim como os skaitistas, não oferço mais medo.
        (In) Feliz do rapaz da marmita de restos que agora está sozinho no grupo dos não observados. Mas por isso mesmo pode continuar a esboçar uma dança e sair falando bem alto que a chuva, o frio e os políticos são do demônio. Incólume, sem que ninguem demostre que realmente está o ouvindo, escutando aquelas verdades urgentes, evitando o contato visual. Pois essa liberdade de fazer e agir como quizer, sem interrupções indicativas, parece uma compensação que eles daõ apenas às crianças, aos loucos e àqueles tem o jundo como casa, o céu como teto e o chão como cama. Àqueles que usam chinelos de dedos na chuva, ando com cobertores rôtos nas costas, sacolas plásticas com marmitas de restos envoltos em isopôr ou papel alumínio, cheirando a falta de banho e mijo encalacrado nos seus sujos moletons.



quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

AO SOL

Cuidado com minhas coisas bonitas
Cuidado com essa faca que é uma lâmina, corta!
Cuidado com o sol.

Cuidado
Com o pé na boca
Com os pulos no assoalho
Quando o disco estiver tocando.

Cuidado com a chuva
Que fica gripado.
Cuidado com a aguinha no pé
Que resvala.
Cuidado, Sol!

Com os olhos, com os dentes
Com as orelhas, com o queixo
Com o cabelo no chicle
E com o chicle no cabelo.

Não fique se mexendo muito
Porque cai aí! Cuidado!

Com o vidro cromado
Com o rolar da escada
Com o sensor da toalha de papel
Com a fita métrica
(Ela é de ferro é rápida é pesada)
Cuidado com o volume das coisas
E as coisas de volume.

Cuidado para não cair no carretel
(Dance nele com cuidado)
A pantufa na janela
O caroço da ameixa
A camiseta de sereia
O alfinete dos botons.

Cuidado
Que gliter é ruim de tirar
E as pérolas falsas
Se escondem muito bem.
Cuidado
Com a xícara no chão
E o batom no meu olho.
Cuidado
Com a Gal Costa cantando.

Cuidado para não bater aqui, ó!
Não leva choque mas quebra...
É isso que a gente quer?

Cuidado com:
A cadeira – porque fecha atrás.
A garrafinha – porque abre.
A comida – porque tá quente.
O chá – porque tá gelado.

Cuidado!
O chão não pode ser
Arranhado pelos carrinhos.

Ah, não!
A máscara, o boneco
O lápis de cor
O molho, as chaves
A gaita, o Laranja
O Tomzé e o Irará.
A roupa arrastada no chão
O apontador, a revista, a toalha
O marcador de página no livro
O tênis branco.

Cuidado com esse pé nos meus lençóis
Essas mãos no meu teto.

Cuidado
Com o xampu no olho
A água no ouvido
O amargo na boca
O espinho no pé.

Cuidado com a piscina de bolinhas.
Cuidado com o carvão no rosto.
Cuidado, Sol!

Não se ponha, se nasça!

Cuidado
Para não apagar minhas fotos
Limpar minhas conversas
E pegar vírus.

Cuidado
Com a bola na janela
A bola na rua
A bola embaixo do carro
A bola na cara
A bola no alto
A bola no vizinho
A bola aqui dentro.

Cuidado para não quebrar
Minha machadinha de plástico.
Cuidado com o liso do sabão.

Cuidado com o sol bravo
Da Praia Mansa
E com o cão manso
Da Praia Brava.
Cuidado com a areia, a onda, o caldo.
Cuidado para não se perder.

Cuidado
Com as suculentas da tia
O ciático do tio
O vestido do pai
O protetor da vó
A bolinha da Luna.
O povo aqui gosta de fogueira
Mas cuidado
Para não se queimar.

Tem cheiro, tem cebola
Tem censura, tem peso
Tem pimenta, tem onda
Tem pedra, tem alga
Tem gás, tem bichinho
Tem goteira, tem câmera
Tem cera, tem cena de sexo
Cuidado!
Não tem sal!

Não provei ainda!
Não vi!
Não gostei!
Cuidado com o meu excesso de cuidado.
Cuidado para não ficar achando
Que eu sou chato ou medroso ou besta!
Posso ser tudo isso junto!
Quem sabe?
Cuidado, Sol!

Veja que o tempo
Não deixa de passar e trazer
Outros precisares
Outros pisar em ovos
Outros prestar atenção
Outros fique ligado
Outros sempre alerta
Outros se toque
Outros dedos indicadores em riste
Outras atenção
E outras e tantas e muitas
E tantas muitas outras coisas.

Cuidado, Sol!
Existe eclipses e raios ultra violeta.
Cuidado com o escuro!
Cuidado com a luz!
Cuide de quem te cuida.
Cuidado quando for cuidar de alguém.
Cuide de si.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

ASA DELTA

Lembro do primeiro dia que fui no Clube Asa Delta, não quero me ater muito a datas, mas sei que não fazia muitos anos de sua inauguração! Não sei quem me levou, mas eu era bem jovem, com uns 12 ou 13 anos (sempre fui metido a mais velho, até agora sou). Dancei bastante, cena show, com direito a rodinha de aplausos e palmas ritmadas durante a performance... um luxo só! Quando não havia o clube naquele espaço, íamos para escola por um carreiro feito por insistência da população, naquele terreno gigante que até hoje não foi totalmente habitado. De repente surge suas estruturas e o galpão de algo que não sabíamos o que seria e não tínhamos ideia da mudança que ocorreria na Vila e em nós mesmos.
Houve um vendaval absurdo na região logo quando eles inauguraram o clube e ele, assim como o futuro ginásio de esporte, voou! Criaram a lenda de que o nome Asa Delta era por que já tinha voado uma vez! Claro que é uma piada, ele sempre se chamou assim, mas a piada de propagou com o tempo. Aliás, nomes, apelidos, designações, formas de se referir a ele nunca lhes faltaram, para o bem ou para o mau! Sei de: “Tidão” (tidão soco, tidão facada, tidão tapa, e assim vai...), “Derta” (quase que segundo nome) “Asa”, “Zé Carlos” (nome do meu amigo proprietário, as pessoas falavam: ”vai no Zé Carlos hoje? ”), “Clube”, “Sarau”, “Risca Faca”, enfim...
Nos primeiros anos tínhamos dois dias de funcionamento, sexta e sábado. Na sexta eram os chamados Saraus e nos sábados Baile Gaúcho... com a nata dos conjuntos musicais de Guarapuava, Pinhão e região. Depois veio o domingo com mais “balanço” e por fim haviam duas pistas de dança e tudo acontecia ao mesmo tempo. Vou tentar falar das características desses eventos.
Os Sarais eram os meus preferidos! Combinávamos com a turma, fazíamos um esquenta íamos para frente do clube. Muito comum era que sempre tinha alguém sem grana para entrar (muitas vezes essa pessoa era eu), aí então vinham as possibilidades: falar para fazer mais barato, ficar esperando lá fora enquanto alguém ia ver se “cavava” com outro alguém dinheiro ou se tudo desse, errado esperar a bondade do Bodinho (porteiro mor) que poderia deixar entrar nos instantes finais... Tinha noites que lá fora era mais divertido, e badalado. Pois como já disse, muitas vezes ficava lá fora, antes por estar sem grana e depois, com a lei antifumo, saia para fora fumar e nunca mais voltava (aliás um habito eu adquiri com a nova/velha lei: “ficar mais na ala de fumastes...”).
  Nestas noites tinha som mecânico com os djs residentes, as vezes convidados. Muitos passaram por essa função! Me recordo do Júlio, do Carlão, do marcante DJ Albino, que cresceu discotecando aos nossos olhos, e tinha que ouvir nossos pedidos e oferecer nossas músicas... “E fica a última da noite! ”... Quantas vezes não ouvi essa frase!!!!  Seja quem fosse era sempre guiado por uma rígida seleção musical que tocava sempre as mesmas músicas e as mesmas sequencias de gêneros.
Primeiro “balanço” ou “tunch tunch”, como o melhor da década anterior, vejam só... Muita coisa dos anos 80 e 70 tipo,  Modern Talking, Francsco Mapoli com sua “Balla balla”, Vengaboys, A música que falava “eu quero uma canção que libere as emoções pra cantar pra dançar...” que tocava três vezes seguidas! Acreditem! Uma em cada idioma! E seguidas! Inglês, português e espanhol! Por que?! Sempre foi um mistério para mim! Também tocava coisas que rolavam nas rádios, mas nunca com o toque de modernidade exigida, só quando levávamos o CD e contribuíamos com os sucessos... rolava sambas, axés, funk e gêneros da moda,  tudo feito com passinhos previamente ensaiados e mostrados com destreza...
Esses passinhos mereciam um estudo a parte, com mais carinho, aqui só preciso dizer que eram criados e ensaiados e executados com fervor pelas pessoas! Salve Dete, Adilsinho, Paulinho, Silmara e companhia! Eu não me deixo fora dessa pois sempre dancei e incentivava! Acho que essa sempre foi minha missão no Derta: dançar e fazer o povo dançar! Passinhos, no meio da roda, até o chão.... Lá que desenvolvi meu conhecido jeito de dançar loucamente da forma que eu quiser! Sempre chamando a atenção por causa disso. Bem, como sempre digo, parodiando Nietsche: “Não acredito num deus que não dança até o chão”. 
 Depois era o momento das músicas gauchescas onde alguns faziam floreios e outros apenas exibiam o poder de seu vanerão e o quanto seu xote era mesmo largado. “Em xucra bailanta de fundo de campo...”, cantava a música. Era agarrar o par e sair se lascando pra pista! Gastando a sola da bota e arrodiando o vestido imaginário! Momento de também de dar uma saidinha lá fora e ver como que tava o rolê, hora que tomar um ar, um gole, fumar um cigarro, fumar, arrumar uns esquemas, conversar com o povo... para mim, uma semi pausa que eu fazia um pouco de tudo o que citei a cima. Em seguida a parte mais horrível na minha opinião, e mais amada por muitos, a hora da “lenta”, momento de pegar o esquema e dançar coladinho com a música sertaneja mais querida (Amado Batista e afins) ou a musica sertaneja mais ouvida ou a música do par romântico da última novela. Essa hora eu sumia mesmo! Ai vinha o início da sequência de novo: balanço, gaúcha, lenta (hora de sair ir embora, se achar ou se perder de vez...) Esta segunda parte era essencial para a noite. Era ali que você já estaria mais bêbado, pegando alguém, ou sabendo se foi muita gente ou não foi, ninguém ia chegar depois disso... e talvez tocasse algo como Guns n Roses, sempre Sweet Shine o Mine, para acalmar a alma roqueira de alguns...
Os bailões de sábado eram um pouco diferentes. Iam as pessoas de mais idade, famílias e pessoas não habituais. Sempre tinham mais sucesso de público que os sarais. Recordo de grupos como: Os Manos, Os Pirilampos, Tche Pampianos, Alvorada Campeira, muitos devem ainda existir e fazer o sucesso dos pseudos gaúchos da região... e as pratas da casa: Os garotos de Entre Rios (que teve uma carreira meteóricas, mas significativa) e o adorado (que eu admiro muito) Wilson e seus teclados, meu amigo Wirsinho que eu tanto admiro. Faziam o povo dançar de gastar a sola da bota e deitar os cabelos. No intervalo, balanço e lenta, depois o conjunto voltava a tocar e logo terminava. Tinha os eventos especiais como as promoções do colégio, as “noites não sei o que” (do parafuso, da gata molhada, das torcidas, do havai, da cerveja, da cuba...), e os bailes de festividades oficiais como o natal, revelion, pascoa...
Aos poucos o público foi mudando, outras gerações vieram, muitos desses rebentos nasceram de encontros ali. Houve mortes também, muita briga, pois o povo não sabe beber sem dar bafo. Esses acontecimentos trágicos faziam a má fama do lugar. Falsos moralistas falavam mau do espaço e de quem frequentava. E ainda tinha aqueles que, por algum motivo, tinham vergonha de dizer que iam lá, sempre aparecendo bêbados no final como se estivessem se permitindo uma farra antes de ir na igreja confessar que pecou. Mulheres esperando seus maridos, escondidas na esquina, os “alemão” que apareciam e logo sumiam, as pessoas que estava trabalhando em outros lugares (na época Curitiba, hoje Itajaí) que iam visitar a família e gastar dinheiro e a roupada nova que comprou com o dinheiro que estava ganhando- tipo ostentação. Mas todos acabavam aparecendo para expurgar seus males um pouco. No fundo, todos querem ser alegres, mesmo sendo hipócritas as vezes.
Hoje o Asa Delta não existe mais! No momento em que eu escrevo o espaço está alugado para uma igreja. Parece uma ironia gigante essa transformação, mas não é, creio eu.  No último Natal, estava eu lá na Vila  com minhas amigas e logo depois da meia noite começou uma sessão de saudosismo; “se tivesse o Clube, agora tava todo mundo se arrumando para ir, que saudade do Asa Delta! ”... Como eu disse antes, sempre frequentei o Derta, teve uma época que nem entrada eu pagava (!), e sempre defendia quando surgia a reclamação geral de que sempre tocava as mesmas músicas e iam as mesmas pessoas. Reclamação essa super válida, inclusive! Pois o que meus amigos e amigas não entendiam na época era que lá estava a nossa liberdade, o nosso espaço, nossos 15 minutos de fama, nossa oportunidade de ser mais feliz, de dançar sem medo de quem estava lá fora espiando e criticando! Éramos felizes e não sabíamos. Sei que ninguém imaginava que um dia ele iria acabar e fomos pegos de surpresa, deixados como órfãos de uma boemia cabocla, barbara e também ingênua. Nosso lugar comum, de compartilhar alegrias e frustrações, de amores e dores, sons e fúrias... nosso templo. 

PS: PARA LER OUVINDO ESSA MUSICA
https://www.youtube.com/watch?v=omiMlOkSePY

segunda-feira, 16 de junho de 2014

COPA DO (MEU) MUNDO


  PRÉ SCRIPTUM : Um certo professor me pediu que escrevesse sobre a Copa do Mundo aqui, que na época estaria começando, no Brasil e refletisse um pouco sobre o impacto desse evento na cultura do nosso país. Bem, achei esse trabalho de gosto mais do que duvidoso! Me recusei intimamente em fazer, fiz cena, achei uma proposta meio "matação", mas... acabei fazendo! Me rendi ao tema da temporada e escrevi algumas linhas. O resultado é o que se segue abaixo, uma exposição ensinofundamentalesca sobre esse período curioso... Achei interessante publicá-lo aqui, mas ainda não tenho certeza se o faço pra expor minha humilde opinião ou se para publicar alguma coisa neste meu espaço que esta abandonado às moscas... Seja de que maneira for deixo bem claro aqui que não sou contra o futebol... apenas ele não me interessa! Assim como muitos dos meus gostos não afetam ninguém, ou pelo menos uma grande parcela da sociedade... Sei lá, perdeu a graça pra mim, não que um dia teve, mas houve o juiz Margarida que eu achava o máximo na minha infância (envergando o corpo para atirar ao ar algum cartão vermelho para o machismo palpável do esporte), houve a Copa de 1994(?!) com os Novos Baianos dizendo que o molho da baiana melhorou o prato do Tio San em um comercial de chinelos e houve o Raí que bem... que é da época sabe que dispensa explicações... Parece que visivelmente os meus 90 minutos passaram a muito tempo... Lá vai o texto:

Somos considerados o país do futebol, cultuamos o futebol arte, nascemos pré-dispostos a fazer um drible estonteante a marcamos nada menos do que gols de letra. Sabemos o que é uma bicicleta, uma cabeçada, quando somos jogados pra escanteio, quando damos tiro de meta, quando somos gandula, quando tomamos um frango ou quando chegamos quase dizemos que:foi na trave!... Enfim, nossa memória futebolística esta cravada em nosso inconsciente desde o primeiro minuto do primeiro tempo de nosso eterno flaflu que é a vida. Temos o time com e o sem camisa, já fomos a algum "campinho" e sabemos que jogar uma pelada não é atirar no espaço uma mulher nua. Mas como nem toda feiticeira é corcunda e nem toda brasileira é bunda, gostar de futebol não é uma verdade universal entre os brasileiros. Eu não me sento atraído pelo esporte e conheço muitos que também não o são. Mas, infelizmente estamos fadados à generalização e dizer que não gosta de futebol pode se tornar o seu suicido social em alguma ocasião especifica; parece que não saber sobre a rodada do brasileirão as vezes pode parecer uma completa alineação, um pecado, uma heresia contra os deuses da bola!
Quando soube que a Copa seria aqui no Brazil, fiquei pensando de onde sairia o dinheiro para as construções, reformas ou melhorias em nossos esparsos e decaídos espaços para o esporte, afinal, não é novidade ver esportistas chorando as pitangas e implorando patrocínio para que possam viver plenamente sua profissão. Claro que os ricos salários de uma parcela minúscula de esportistas brasileiros (mais os ligados ao futebol), mas aqui minha intensão não foi subjugá-los, apenas estou deflagrando a diferença que entre esses universos. mas houve uma comoção geral no resultado que nos definiu como anfitriões: foi plantão na TV, todos vimos ao vivo e se mexendo o choro emocionado de Lula e da comissão toda (ohhhh que fofo!).
Trabalhei em uma escola que funcionava no pátio de uma igreja desde sua fundação e demorou 12 anos para que o governo pudesse enfim mandar a verba para a construção das tão sonhadas instalações da escola. De repente, com o anuncio magico de seriamos sede,  o milagre aconteceu: dinheiro surgiu não sei de onde para a construção de estádios e repaginação de favelas e avenidas.  Bancos e empresas abracaram a causa e começou uma mimi odisseia infernal para quem como eu queria trabalhar mas havia uma obra da Copa no meio do caminho. A policia, em um piscar de olhos tomou conta das favelas! Anunciaram um dia antes na TV um pedido para que gentilmente os traficantes saíssem de seus, até então, habitat natural e fossem para outra freguesia! onde antes apareciam para metralharem traficantes ou receber a propina deles de cada dia, a partir daquele momento seriam uma presença constante, uma união para o bem maior da pobre população dos morros que a anos vinham sofrendo nas mão daqueles monstros aproveitadores, que se aproveitavam das vistas grossas do governo (que parecia ignorar a organização autônoma - e forçada, diga-se de passagem- das populações dos morros). 
O Jornal Nacional deu uma super cobertura á esse nobre feito da nossa liga da justiça, nossa unidade pacificadora, nossos cavaleiros Jedi! Rimos aliviados com as imagens de pós adolescentes que se misturavam a outros em uma fuga alucinada do morro, antes da chegada triunfal (de tanque e tudo) de nossos arautos da paz! A reportagem terminava com um plano aéreo  contornando a Igreja da Penha, no Rio de Janeiro, com um incidental Caetano entoando versos que pediam, em uma prece verdadeira, que alguém protegesse o seu baião! Bem, baião protegido, construções a todo vapor, até a novela nova das nove fazia merchand do turismo delicioso que é subir um morro que tem vez!
Ai vem os pobres do país felizes com seus empregos temporários e batendo no peito com orgulho para dizer que uma de concreto naquele estádio lindo e majestoso foi colocada por ele, sem querer levar em consideração que talvez essa seja a relação mais próxima que ele vai ter com os jogos que irão acontecer no período da copa. Afinal este espetáculo é para o mundo ver... Não para o submundo. As obras começaram a dar no saco para quem tinha horário a cumprir, todo mundo quis tirar uma casquinha ( ou deixar apenas uma casquinha) do abacaxi arquitetonico que estava sendo erguido Brazil a fora! Alguns cavaleiros Jedi pacificadores começaram a utilizar os seus sabres, que não eram de luz, na população que libertaram! Moradores de locais especificos onde construções iriam se erguer começaram a colocar a boca no trombone dizendo que estavam sendo expulsos de seus lugares sem que fossem avisados previamente! Videos de pessoas sendo humilhadas, perdendo tudo ou ameaçadas, começaram a bombar no Youtube... e o prato começou a ficar cheio para os debates efemeros das redes sociais.
Em Junho do ano passado as pessoas foram às ruas protestar contra a Copa com uma finalidade muito bem estipulada: encontrar os melhores ângulos de suas fotos com cartazes em punho para o Facebook... As pessoas começaram a achar um absurdo ver que as poltronas de determinados estádios eram carissimas, enquanto pessoas dormiam no chão em leitos improvisados de hospitais publico ( mas uma Copa não se faz com hospitais!). Já chega! Esse berço explendido esta muito pequeno para o nosso sono eterno! Vamos vestir nossa mascara emprestada do filme holiwoodiano de algumas tempporadas passadas e mostrar para o mundo, via Instagram, como somos politizados e estamos contra essa robalheira! 
Um ano depois, ninguém mais fala disso, pois o orgulho de vestir a camisa canarinho é bem maior do que os dois reais e vinte centavos de discórdia. A moda mudou: pra que protestar?! Se adiantasse alguma coisa! Já que ta que vá! Agora não vamos fazer feio, afinal o time do País do Futebol precisa de nossa energia para ir para frente! Queremos mostrar que podem me roubar mas não sem antes levar um "olé" bem grande da minha força, da minha raça! Vamos juntos, vamos! Pra frente Brazil!  Quem quer saber de educação e saúde quando Neymar está em campo? Quem quer saber de miséria quando Galvão Bueno (tal qual o grito de sereia) entoa o tão esperado gol?! Quem precisa de moradia quando meu time já tem seu tão esperado estadio?! Quem quer saber de emprego quendo posso comprar meia duzia de bandeirinhas, alguns apitos e vender para estrangeiro na frente do estadio?! Isso de protestar contra a Copa neste momento é coisa de reacionário, antipatriotra! Pessoas mau amadas que não querem saber de nada! Pessoas sem Deus no coração, insensiveis; que não tem capicidade de chorar perante a letra linda do hino que vai tocar antes do jogo que diz diz que um filho seu não foge a luta!
 Bem, além da alma colonizada, do carnaval e do Futebol Arte a memória fraca também parece nos ser um patrimônio cultural.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

O ADORÁVEL HOMEM DAS NEVES

            O livro Trópico de Capricórnio, de Henry Miller, começa com a seguinte frase: "depois que nos livramos do fantasma, tudo segue com infalível certeza, mesmo no meio do caos"... Faz dois dias que estou pra começar a ler esse livro e só agora de madrugada é que tive uma espécie de coragem pra iniciá-lo. Não que eu tenha medo dele, ou que ele seja algo para escolhidos, iniciados em algum mistério ou mesmo para intelectuais cheios de recalque, nada disso; venho de uma longa jornada literária que acabou há dois dias e estava me sentindo um pouco órfão literário... Agora estou aqui com esse osso pra roer! Mas um osso bem suculento, diga-se de passagem!
Há uns sete anos atrás, comprei no sebo os volumes de Sexus e Nexus, dois livros da trilogia A crucifixarão Encarnada, e fiquei fascinado com a escrita de Miller! Do mesmo sebo levei também sua autobiografia e me encantei! Suas historias são absurdamente reais, seus heróis são pessoas de seu convívio, transformadas em literatura! Sua obra toda é um grande diário de bordo, onde a vida dita suas formas de agir na literatura! Ele personagem principal de sua obra! Sem narcisismos baratos, até porque a visão que ele tem dele mesmo é muitas vezes niilista, irônica e depreciativa! Foi identificação na primeira olhada, amor à primeira vista! E talvez essa paixão icônica que me tenha impulsionado a escrever agora, largando o livro nas primeiras oito páginas trabalhando kerouakquicamente em um escrito que não sei no que vai dar.
            Hoje nevou! Dia 22 de Julho de 2013, às 19 horas aproximadamente, minha amiga saiu da locadora onde eu estava e disse que seu guarda chuva tinha embranquecido! Corremos para ver e sim, estava nevando! Tenho uma lembrança, não sei se real, de ter visto algo parecido com neve na minha infância: um frio de lascar que de repente parecia ter sessado e o carrinho de mão lentamente se cobrindo de brancos flocos, no pátio da casa da minha vó, a poucos metros de onde eu escrevo agora. A euforia hoje foi geral, amanhã não se falará em outra coisa a não ser da neve, de o que cada um estava fazendo quando viu ela, das fotos e vídeos que se fizeram, da maravilha que é a natureza... ops, não se se das maravilhas da natureza falarão afinal de contas a muito se sabe que o tempo nunca agradou a todo mundo: se esta frio é ruim, se esta calor é ruim, se chove é o fim e se neva bem, vamos esperar o debate caloroso sobre a neve amanhã!
Eu em particular, achei lindo e ao mesmo tempo assustador. Lindo por ser algo inédito pra mim e ver a empolgação toda das pessoas, me fez pensar em como a natureza pode tornar a simplicidade a coisa mais fantástica do mundo! E assustador por pensar em como a natureza mudou, ou melhor, como mudamos a natureza a ponto de fazê-la chegar a extremos! Não ficarei admirado se o verão for de 50 graus, ou se nem houver mais verão! Implacável! O fato é que ainda neva lá fora e essa estranha meteorologia reflete um pouco meu estado de espirito, inquieto, frio, úmido, mas também novo, apenas com flocos brancos como detalhes, mas com a mesma sensação térmica de um frio que sempre houve por aqui! A imagem é nova, a sensação não! Mesmo parecendo novidade fica o pensamento ancestral de que este filme eu já vi.
            Longe de casa a mais de uma semana... Isso esta me deixando um pouco deprê! Acordei hoje agridoce, tirei minha barba e me desloquei um pouco no espaço/tempo, apesar da aparência mais jovem, não consigo ficar sem ela e isso é um incomodo! Acabei de ver o filme Impulsividade, onde um adolescente não consegue perder o habito de chupar o dedo e isso me levou a pensar em como é complicado mudar, sair da zona de conforto e brigar com seus demônios interiores... Admitir que temos coração, que somos frágeis, que as pequenas coisa doem, que criamos ilusões, que achamos cabelo em ovo, é complexo. No filme a Tilda diz uma frase que eu não lembro ela na integra, mas que era algo como ser viciado em fantasia, creio nisso sim. Agora mesmo estou eu aqui achando uma forma de colocar no papel o fato de me sentir sempre em estado de paixão pela mesma pessoa há anos! Pronto! Falei!
Acabo me sentindo como na música que diz: toda vez que eu tento me perder, acabo me encontrando perto de você... E essa é uma fantasia que criei e que não consigo mudar! Parece ser uma metáfora ao contrario da minha barba que não consigo ficar sem, quando isso acontece me sinto nu, e essa paixão adolescente-mal-resolvida vem sempre como uma lamina afiada prestes a me deixar depilado e desprotegido. Parece que as pessoas podem me olhar lá no alto de minha autoconfiança e rir com sarcasmo de minha humanidade. Não que eu seja desumano e arrogante, pelo contrario sou sensível aos outros e ao mundo, mas ficar lá em cima é algo que me é confortável! Sim... O amor é estranho e sem forma, o amor é anormal.
            Meio que me fechei pra essa historia de relação a dois, não acredito nisso piamente e nem torno isso o fator que impulsiona a minha vida, pelo contrario. Mas acho que por falta de repertorio, sempre acabo esbarrando na mesma pessoa que por ultimo me senti arrebatado. E isso já faz muito tempo! O que significa que eu deveria expandir esse repertório, desbravar horizontes interiores e deixar que novos continentes sejam descobertos em mim. Mas não me sinto disposto a isso e parece que essa necessidade me é colocada de tempos em tempos só pra me lembrar de que posso correr o risco da estagnação, que mesmo não tendo isso como a mola mestra de minha vida, é saudável deixar que as pessoas cheguem perto de você. Já me disseram que as pessoas parassem ter medo de se aproximar de mim, como se eu criasse uma barreira invisível que deixa imaculado, um ser que esta bem longe da simples questão relacional...

E quando estou nesta ociosidade de sentimento, acabo voltando para as mesmas teclas e tocando a mesma canção! É tolice eu sei, mas pra mim de nada vale isso estragaria o meu faz de contas! Mas volto agora para o Henry Miller, penso na minha infalível certeza em meio a caos e sei que isso não é um mal maior e sim apenas uma forma de a vida me deixar tranquilo quanto a minha vulnerabilidade assistida! Não há mal algum em ser ambíguo. Que se isso me acontece novamente é pra dizer que estou no caminho certo: analisando meus defeitos e os respeitando, mesmo sabendo que eles não duraram para sempre!  É o dedo que não paro de chupar, é a barba que não consigo tirar, é o amor platônico que sempre acena como sombra ao longe, é neve que surpreende a assusta pela mesma razão, ser simples... 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

MEUS BENS, MEU MAU.


Uma coisa curiosa me aconteceu nesta ultima semana: coloquei a venda alguns de meus livros e isso pra mim é muito difícil! Tenho uma relação amorosa com eles, pois afinal de contas vivi cada momento de compra, cada mês em que esperei eles chegarem na livraria para exibi-los como minhas mais novas aquisições. Gosto dessa nostalgia do livro, primo pelas edições especiais, empresto para os leitores ávidos que sempre estão prontos a retribuir a gentileza, emprestando outro titulo como refém; e até mesmos para aqueles que não retribuem nada e ainda tomam o seu livro como cativos, para assim dizer... Mas é assim mesmo... A tarefa maior do livro, sem duvida não está centrada em criar poeira em uma estante qualquer! Ou pior: em uma caixa, adormecendo, sem vida!
Vivi o ano passado todo com dor no meu coração por abandonar a grande maioria deles nas terras quentes de Maringá, sem ninguém que lhes fizessem as devidas consultas, as mais necessárias pesquisas! Ficaram por lá, separados de mim pelas circunstâncias mais "novela mexicana" que se podem imaginar, as margens da pós-modernidade. Cheguei a sonhar que um dia os recuperava e quando enfim era me dado à chance de apanhá-los, eles estavam num lugar alto demais... E como eu estava atrasado, com muito esforço consegui pegar um único titulo e de lá sai!... Freud explica! Enquanto isso, no plano da realidade, levei comigo os poucos títulos que couberam na minha mirada bagagem e que achei relevante para continuar minha saga sagarana... Todos sobre teatro! Deve ser o espanto de pensar no teatro como algo realmente redentor, um caminho sábio a trilhar pelas vias mais intensas daquela realidade solar que, se em livro, soaria como uma fabula burlesca! Mas como se trata do que existe, os ares são de amor e de todos os outros sentimentos que acompanham essa dádiva.
            Agora que a necessidade continua revirando meu lixo, pensei que um exercício de desapego não seria de todo mau, um fenki shui capitalista que, sem que eu soubesse no momento, poderia me presentear com alguma conclusão acerca de mim... Sim, continuo acreditando na força que tem a sequencia mortal da "ação-reação", mesmo ela sendo impensada inconsciente! Rapidamente me debrucei sobre os livros que ficaram e escolhi, sem muito pensar, aqueles iriam pra fita: um de exercícios da Viola Spolin, um sobre as teorias do teatro pós-dramático e outro sobre apontamentos acerca do teatro de Grotowiski... São meus companheiros de estrada, errantes pesos de papel que tanto reboliço faz, tantos olhos abrem, tanto sono dá, quantas horas preenchem... Tchau, até, fui, goodbey, aufriederzem, inté mais...
            No mesmo dia as pessoas já se manifestaram e em pouco tempo já estariam fazendo a alegria das pessoas certas! Essa magica dos livros é o barato mais interessante! Eles escolhem seus donos! De certa forma somos domesticados por eles! Como fico feliz por isso! E infeliz também, é claro! Só que essa infelicidade é mais por estar tento que me desapegar na marra do que do egoísmo de tê-los só pra mim! Mas entendo perfeitamente esse truque que os livros nos dão, fazendo com que, absurdamente, acreditemos que eles nos pertencem... Nós passaremos e eles passarinhos!
            É ai que vem a nota de esclarecimento: analisando o assunto, na rua, indo dar aula, descobri uma simbologia especial neste acontecimento: nunca mexi direito nas fichas que a Spolin fez- invento a maioria dos meus jogos teatrais e poderia ter meu próprio fichário  o teatro de Grotowiski me despertou para o modo como vejo as artes cênicas hoje e estar conectado as suas ideias é algo natural em mim, coisa explicado por aquele fenômeno, o espirito da época,  que deixa a arte flutuando no espaço- tempo para ser captada por aqueles que mais sensíveis se colocarem ( como ele mesmo que trabalhava como Artaud, sem antes saber das semelhanças dos seus trabalhos); e o teatro pós dramático, já na minha pós graduação (interrompida) vi que era a forma acadêmica, lindinha, poética, intelctualóide de falar dos processos que vejo nascer, tanto do meu lado como em mim e nas produções que gosto...
Sempre primei pelo entendimento total dos meus processos criativo, seja como ator ou como alguém tentando encontrar soluções ao manejo de cena. E essa talvez seja o ganho maior! Por olhar o processo de criação como um rizoma de conceitos que se estruturam em diferentes áreas do conhecimento; sejam elas estéticas, filosóficas, exatas, químicas, literárias, historias... E quantas mais a força de vontade de criação, buscar em seu auxilio! Dessa forma consigo assimilar com mais facilidade o quão subjetivo somos e abstratos são nossas conclusões... Nada concreto nada palpável.
             Desfiz-me de coisas que estão mais perto, mais colocados ao lado da minha razão, do que me parecia! E precisei drástica e dramaticamente me separar deles para perceber que mesmo sem nos darmos conta, as engrenagens continuam trabalhando e demarcando a hora em que a janelinha vai abrir e dela sair o cuco mais artificial e cantar que, bem ou mau, o tempo passou.